domingo, 2 de janeiro de 2011

E agora, Maria?

“Olha ali, olha, tá vendo ali? Ta vendo onde eles tão?”, ela me falou com lágrimas nos olhos, a boca, que guardava apenas um dente, tremia. Os cabelos grisalhos e crespos teimavam em fugir do coque, que outrora fora muito bem transado.

Miúda e magra. Uma Úrsula Buendía da minha realidade. Andando pela casa a reclamar da morte. “Que será de mim?” eis sua dúvida-mãe. Sofre por pavor ao sofrimento.

Angustiosamente me pergunto em que abismo profundo se refugiou minha vó. Em que caverna da mente? Será que anseia em voltar? Será que sua sanidade está presa num lugar cuja chave a loucura engoliu? Quem está insano, afinal?

Eu me encolho num canto do sofá, mastigando essas perguntas sem respostas. Enquanto ela anda pela casa pedindo que não a deixem só.

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