domingo, 12 de dezembro de 2010

Enquanto você sonhava

Você acaba de chegar. Põe as chaves da casa e do carro em cima da mesa de jantar e caminha direto para a cozinha. Sempre teve essa mania, de ir direto pra cozinha. Às vezes só acendia a luz, apagava e voltava. Como se quisesse avisar, aos ratos e baratas, que chegou. Eu presto atenção no seu andar por um momento. Sempre o achei bonito. Não sei porque motivo, realmente; mas lembro de sempre ficar observando seu andar pela casa e o achava lindo. Um andar indisposto, cansado e dengoso. Você senta no sofá com um cigarro na boca e uma cerveja na mão. Liga a TV, troca inúmeras vezes de canal, desiste e desliga. Se espalha no sofá e fica olhando para o teto. E eu me entrego a essa imagem, que você sustenta, por longos minutos. Admiro o jeito com que sua perna direita fica pendurada fora do sofá, a forma como batuca na lata de cerveja, enquanto a outra perna segue o ritmo de uma música que toca na sua cabeça. Tenho ciúme porque você pensa na música, mas não pensa em mim. Ou será que pensa enquanto canta a música mentalmente. Fico confusa e enjoada, com vontade de chorar e vomitar.
Olho pra você lenta e longamente antes ir embora. Ao encará-lo de frente, vejo que uma lágrima escorre tímida do seu rosto. Será que pensava em mim realmente? Levo minha mão até seu rosto e ela desliza suavemente sobre ele. Você sente frio, levanta e fecha a cortina da janela. E eu vou desaparecendo vagarosamente da sala e da sua mente. Um dia, talvez, da sua vida.

2 comentários: