domingo, 28 de novembro de 2010

Moringando

E eu via as veias da tua mão máscula, que faziam movimentos circulares em volta dela. E que depois, sem piedade, a golpeava como quem tem carinho especial pelas coisas que trazem beleza.
E ela gemia, como quem afoga. Podia-se sentir sede, só de ouvir aquele som.
E você fazia tudo acontecer, apenas sabendo como dizer. Apenas fazendo ela dizer, como pode ser suave toda a força do mundo reunida.
E eu, no meu canto, fechava os olhos e imaginava as linhas do teu rosto iluminado de prazer por estar fazendo exatamente o que queria na hora em que desejava.
Isso é beleza. Tudo deve ser o mais natural possível. As coisas naturais não obedecem nada, senão a lei da natureza. A lei que deve ser respeitada sempre, e outra alternativa não há.
Não há nada mais belo que deixar fluir e saber que o que fluirá será o melhor que poderia acontecer.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ele era químico. Sua aparência, um clichê ambulante. Uns óculos, uma magreza pálida e um jaleco branco. Sorriu ao me ver. Eu eu retribui, nenhum dos dois foi sincero. E, mesmo assim, me senti acolhida. Havia a preocupação em aceitar o outro e isso me fez relaxar.
Antes dos óculos quebrarem e ele os jogar no bolso do jaleco, ele havia me dito duas coisas importantes: "Eu sei de muita coisa. Coisas que fariam você perder o sono pro resto da vida." e "Não tenha medo. Mas não confie demais também."
Meu coração vivia aos pulos e sobressaltos e eu sem saber porque durante toda a noite, vim perceber que havia me apaixonado ao desligar a luz do abajur.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Loki forever

Eu tenho medo de criar juízo.
Criar juízo é voltar a ser covarde.
É não dizer a verdade,
é viver sem acreditar.
Criar juízo é sorrir na hora de sorrir, chorar na hora de chorar.
Criar juízo é estar apto a ter filhos, ser bom exemplo, um bom partido.
Criar juízo é não poder dizer não, é não poder dizer sim. Se assim não convier.
Criar juízo é não ser feliz, é não ser o que se é.
Eu tenho medo, muito, muito mesmo.
Tenho pesadelos com isso todas as noites.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Intraduzível

Você, que não vê, não há como saber.
Não há como verter sensações que só a visão nos outorga.
Você que não vê, não pode sentir, nem pode exprimir da forma justa
O que o mundo ao redor nos diz.
E diz, assim, como um bebê que suga a mama da mãe
Nos suga os olhos, nos deixa tontos e sem ar,
Apenas com gana de explicar, mas sabendo ser impossível
Dar ou deixar de dar a alguém o que lhe foi colocado na mão.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Por um segundo

Eis que você vem me dizer, não com palavras, mas com as mãos: "Você é minha."
E eu, no alto da minha independência, me calo. E digo, não com palavras, mas com o silêncio: "Da cabeça aos pés."